Simplicidade
" Sou do tempo em que tristeza era curada com um pedaço de goiabada com queijo, mas hoje não.
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Qualquer tristezazinha já tem de ser medicada com comprimidos que entorpecem a alma (...). Coisa mais esquisita (...).
Isso é falta do que fazer. Se lavasse uma mala de roupa por dia, certamente estaria bem cansada para dormir a noite toda (...).
Nunca vi uma mulher mais resignada que minha mãe (...). O ofício de ser mulher era aprendido e ensinado nas pequenas coisas (...). Forno é lugar por onde prende o marido! - dizia. Eu levei tempo para entender, mas os sabores são laços que garantem a conjugação do amor eterno. Não há amor que resista a um arroz requentado. Coisa mais triste é ver pingar a água no arroz encaroçado na panela fria. O bom do amor é sentir o cheiro do alho no óleo quente, o barulhinho do arroz refogando, dourando junto da cebola moída, só para dar gosto. Doura o arroz, dura o amor (...).
Sou do tempo em que o mingau de fubá era a primeira refeição do dia. A roupa branca quarando no varal, o cheiro de broa de milho, o calor do forno de tambor que ficava na varanda. Vida emoldurada de matéria simples, quase silenciosa.
Essa vida moderna não tem nada de artesanal. Tudo é feita às pressas. Antes, a vida demorava para acontecer. A confecção de um vestido cumpria os passos de um ritual. Procura do modelo, a compra do tecido, os aviamentos, a escolha da costureira, a negociação. Depois a primeira prova, a segunda, e, finalmente, o vestido pronto. Hoje não. Olha na vitrine e leva. Não há espaço para a espera que nos permite ocupar a mente. Os sabores não demoram em nós. O prazer da roupa nova é reduzido drasticamente ao momento da compra e ao primeiro uso. Antes, o prazer de procurar os detalhes. Deleite prolongado talhando a alma, tal qual a tesoura talha o tecido. A costura, os bordados,os reparos. O todo constituído de partes que nos ensinavam a saborear o período das esperas.
(...)
O que faz a diferença no mundo é o jeito como olhamos para ele. Ando convencida de que a simplicidade são os óculos ideais para uma visão mais acertada (...). Relação complicada nasce é do jeito como olhamos. Depende do foco. Se há simplicidade em quem olha, naturalmente se torna simples aquile que é olhado. Oh, vida de meu Deus! Quanta coisa seria diferente, caso a simplicidade crescesse pelas ruas, do mesmo jeito que cresce a tiririca no meu jardim.
Sou do tempo em que jardim não era artigo de luxo. Cada família cultivava o seu. Hoje arrumaram até paisagistas para darem jeito nas feiúras do mundo. Solução fácil não existe. Cada um deveria cuidar da feiúra mais próxima. Eu cuido. Tenho uma unha no pé esquerdo que é um desacato de tão feia! Faço de tudo para melhorá-la. É só assim que o mundo pode dar jeito. Só quem cuida das unhas dos pés é capaz de realizar uma revolução estética na humanidade. Dizem que sou detalhista. Não sei se sou. Se acreditar que cuidar das miudezas é um jeito de construir a totalidade, então eu sou. Mas uma coisa é certa: mulher tem de usar brincos. O movimento do "não" sem o barulho delicado de pequenos penduracalhos parece não ter autoridade.
Acho que estou ficando triste, ou deprimida, não sei. - Rosilene, me traz um pedaço de goiabada com queijo, minha filha!
Antes prevenir, que remediar."
Estes fragmentos foram retirados do livro Mulheres de Aço e de Flores, de Fábio de Melo, do poema Simplicidade.
O livro contém estórias pequenas, abordando mulheres comuns em situações universais. Mulheres de fibra, de aço, que jamais deixam de ser, no mais íntimo, comparadas à uma flor.
Vale a pena conferir!
oi flor vim conhecer o teu blog, e já estou seguindo, me siga tbm
ResponderExcluirhttp://make-upandcia123.blogspot.com/
bjos
Muito bom este texto! Eu ameii!!!
ResponderExcluirBeijos**
Oiie' lembraa de miim na caixa da verdade kkkk'
ResponderExcluirEntãão seguindoo
ameei teu blog muitoo lindaa *--*
Me ajuda a divulgaar okay ?
http://silmara31.blogspot.com/
Oiee Silmara.. Lembro sim ..
ResponderExcluirobrigada por esta seguindo .
Pode deixar que ajudo a divulgar sim ..
beijos